AULA DE AMOR À NATUREZA
Um e-mail recebido sobre o amor à natureza e ao Planeta Terra. Uma aula de amor e cidadania. Nesse Rio de Janeiro tão lindo por natureza e tão desumanizado pelos humanos,uma naturalista anônima demonstra que defender o Planeta não está restrito aos gurus de plantão, está na coragem e determinação de algumas pessoas muito especiais.
Minha admiração e respeito por essa pessoa especial:
Tania Viana, cidadã do Rio de Janeiro
Querido Je,
O desdobramento de minha reinvidicação de ontem, se por um lado foi tensa a principio, desdobrou-se em um ensinamento para futuras relações de minhas filhas com o mundo e a sociedade.
Acredito firmemente que a relação de cidadania não é a forma como você faz suas reinvidicações , mas como você as assumi diante da vida e da sociedade.
Ontem lutei em defesa de uma arvore a princípio, e realmente chego as lagrimas quando vejo alguma ser tombada, mas lutei principalmente pelo direito de ser respeitada em minhas ideologias.
Eu já havia conversado com o síndico da área externa do condomínio, que gostaria de estar presente no momento das podas e ele havia concordado.
Cheguei no dia anterior do trabalho e me deparei com um caminhão da Comlurb com rapazes assassinando literalmente nossa mais preciosa alegria.
O som das maitacas todos os dias pontualmente pelas 6 da manhã em seu gritos de louvor e gloria ao amanhecer. São centenas delas, que insistem em viver em um Rio desumano, para humanizar-nos.
São os miquinhos, as aranhas, e quem mais chegar, que habitam-nas, e eu não vou ficar sem fazer nada, sou naturalista. Parte desse planeta suporta dignamente essa humanidade mesquinha literalmente fudendo com ele sem nada fazer.
Depois que consegui as assinaturas das 3 pessoas que estão intimamente ligadas a essa árvore , em meio a nossa conversa, me bate a porta o sindico aos berros dizendo que ele era responsável pela área externa e não eu, e quem tinha me autorizado pedir assinaturas?
Meu Deus, desde quando tem que se pedir licença a alguém para solicitar algo desse gênero ?, e o fiz, por exigência do responsável pelo corte das árvores que me falou: “a senhora assume que não quer que corte ? então assine !”, então assinei,ora!
Mas a parte engraçada é que ele falava e eu falava junto, e ele se fazendo valer de ser homem, disse: “eu sou o sindico e vou cortar”, e eu respondi: “e eu sou uma cidadã e vou impedir, nem que eu tenha que agora ir ao Ministério Público, INEA e o cacete, mas você não corta”, então ele gelou e falou: “Tania você está sendo radical”, e eu respondi: “nesse caso sou sim, e você vai ter que ceder porque eu não cedo”. Então descemos e ele falou: “vamos entrar em um consenso. Posso cortar um metro do galho que esta encostando em sua janela?” Eu disse: “um metro é muito, só se for 60 cm para dar margem para alguém pintar a parede se quiser”.
E começou a juntar gente. Uns senhores moradores antigos assistindo de longe a pandega, veio a engenheira florestal responsável argumentar, e coitada, eu falei pra ela: “sou ambientalista, não aceito corte de árvores que não estão doentes ou ameacem a integridade física das pessoas, e minha relação com as árvores é de responsabilidade, já que elas não podem se defender de vocês, tenho uma íntima relação de afeto com a natureza e não vou permitir esse desmando”.
Ai a coitada resolveu falar: “vou contar prá senhora o que aconteceu com meu avô, ele ia passando com o carro, uma árvore caiu e o matou. Eu falei: “minha senhora, a senhora deveria ser afastada desse cargo, não houve ao menos sensibilidade de seu setor para com a senhora, a senhora é uma pessoa comprometida negativamente com as árvores, jamais poderia estar chefiando uma poda, a senhora está se vingando pelo seu episódio e dor pessoal, a a senhora deve estar sofrendo muito, e vou interceder pela senhora junto a seu órgão”.
Ela gelou. O síndico estendeu a mão e falou: “Tania eu corto 90 cm e não se fala mais nisso”. Eu escondi a mão para trás meio infantilmente e sorrindo disse: “só se for 70 cm”, e ele: “me dá a mão por favor ! todo mundo tá olhando e você vai deixar minha mão no vácuo”. Eu ri: “só se for 70 cm”. Ele falou: “tá”, e apertamos as mãos, mas falei: “vou ficar aqui olhando vigiando entendeu ?”.
Desci depois da poda, e os vizinhos senhorizinhos que moram aqui há muito tempo. me convidaram para uma festa agostiana. Riram muito da cena, e falaram: “nós gostamos de ver sua negociação. Há muito não víamos alguém com tanto amor a uma árvore, e começaram a contar de vacas e porcos que andavam por aqui no passado. Contaram com alegria e nostalgia.
E num momento, o sindico chegou perto de mim e falou sorrindo: “Tania eu queria ir a padaria tomar um cafezinho, posso?” Foi gargalhada geral, eu falei “só se me prometer que não tombarás o pé de café”.
Entrei e minhas filhas, cada uma com seu notebook, riam e falavam: “mamãe, você vira bicho quando o assunto é arvore !”. Viro mesmo ! Eu nem me reconheço. Não gritei, pois não gosto de deselegâncias e gritos, mas me mantive firme e venci EBAAAAAAAA !!!!! Adoro isso.
Uma vez, grávida de 8 meses, subi o morro de meu sitio, sempre morei em sítio, já te falei isso, subi com um revólver nos seios, já era noitinha, quase escurecendo, e eu ouvindo um machado cantando na mata lá de casa. Meu marido não estava em casa, e nem empregados. Era domingo. Eu pensei: sou eu mesma !. Tinha apenas vinte e poucos anos. Cheguei perto do cidadão, que cortava a pobre árvore já no chão, e disse: “tarde moço!” e ele: “Tarde...”, e eu: “se mal lhe pergunte, que árvore é essa que o senhor esta cortando?” e ele: “ah ! eu sempre venho aqui cortar pra lenha”. Eu falei: “pois é moço: agora não vai mais cortar não, porque eu sou a nova proprietária, eu e meu marido, e eu não gosto que cortem árvores. Ele falou: “ah dona ! eu vou levar sim essa árvore... me deu um trabalho danado... vou levar !”, daí eu falei: “não vai não, ela vai continuar ai no chão, servindo agora de adubo e morada de insetos porque o senhor a matou”. E ele: “dona a senhora tá doida?”. Eu respondi: “eu ainda não ,mas posso ficar!”
Bem, resumindo: ele foi embora e no outro dia eu fiquei com fama de cangaceira na região, mas ele era amigo de meu sogro e marido e eu não sabia e ele disse pro Paulo: “caraca meu, sua mulher com aquele barrigão veio impedir a minha vida”,e meu marido falou: “não mexe com a natureza ! ela é doida !...rsrs”, e ficou por isso mesmo. Eu e o cara nos tornamos amigos até hoje, e outras historias mais...
Bem querido, me desculpe os erros, estou em um teclado americano e os acentos não existem nessa porra rsrs, e além de tudo estou sem óculos. Queria compartilhar com você um pouquinho de meu dia de ontem e umas passagens de minha vida.
Um grande beijo em seu coração.
Luz e Paz
Tania Viana